quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

As asas da lontra Bernardina


Era uma vez uma lontra. Ela era cientista e chamava-se Bernardina. Ela tinha um sonho, e esse sonho era ter asas para conhecer o mundo.
No Inverno a sua amiga Águia Pesqueira contava-lhe sobre o frio e a neve.
No Verão o seu amigo Perna - Longa contava-lhe sobre o calor dos desertos.
Um dia quando estava no seu laboratório ouviu um estrondo, seguido por um choro. Então foi ver o que se passava e reparou num borrelho–de–coleira–interrompida que chorava.
- À dias que me dói a perna, mas nunca dei muita importância. Então hoje caí sobre a tua toca.
- Espera aí! Eu tenho um creme que cura todo o tipo de feridas. É que eu ando a tentar criar asas e só me sai coisas malucas com estas.
Depois do Borrelho estar melhor, levou-a aos jardins do Sapal.
-Que lindo – disse a Lontra Bernardina.
-Ainda bem que gostas tenho uma surpresa para ti tenho aqui: esta murraça deve ser o ingrediente que te falta!
-Muito obrigado.
Então ela foi depressa para o laboratório experimentar a murraça que o Borrelho lhe deu. Então fez a sua lenga–lenga: Tira que põe mexe que gira (3 vezes).
Depois de a Lontra Bernardina experimentar a poção sentiu uma comichão estranha e foi ver logo o que se passava e reparou no seu corpo que tinha ficado cor-de- -rosa.
Voltou para o seu laboratório e começou a lamentar-se:
-À coitadinha de mim! E agora o que hei-de fazer?
Em quanto a lontra continuava a lamentar-se bateram á porta. Era a Andorinha-do-mar anã:
- Por favor ajuda-me: os meus ovinhos estão em perigo porque os homens construíram um canal nas dunas da Ria Formosa.
Então a Lontra Bernardina vestiu o fato de banho e pela corrente chegou ao sítio onde se encontrava o ninho com os ovinhos, que estava prestes a cair. Salvou-os e levou-os para um lugar mais seguro. Então a andorinha, para lhe agradecer, deu-lhe estorno e disse-lhe:
- Tenho a certeza que é o ingrediente que te falta!
- Muito obrigado!
E lá voltou ela para o seu laboratório a nado e fez a poção com o estorno, fez a sua lenga-lenga e provou a sua especiaria. Ficou com muita comichão, e reparou que estava com os bigodes de todas as cores. E ela lamentava-se:
-Ai coitadinha de mim estou cor-de-rosa e com os bigodes de todas as cores!
Ouviu-se a bater á porta do lado de dentro de água e a lontra foi abri-la.
Era a Doutora Dourada, que pedia ajuda, pois os ovinhos da Maternidade estavam a ser levados pelas correntes do rio.
A lontra vestiu o seu fato-de-banho e foi ao rio para ir salvar os ovinhos.
Bernardina, quase a chegar lá, nadou contra a maré, e lá consegue salvar os ovinhos, colando-os às algas com a sua super-cola 3.
A Dourada, pelo seu esforço, dá-lhe um saco de plâncton.
- Toma. Este saco de plâncton é a tua recompensa por teres salvo os ovinhos da Maternidade. É, com certeza, este o ingrediente que te falta para conseguires ter as tuas asas. Mas antes de ires fica aqui comigo a ver os ovinhos a eclodirem.
E um a um dos ovinhos saem peixinhos de todos os tipos.
Depois disto, Bernardina volta para o seu laboratório e faz a sua lenga- lenga, três vezes, como era seu hábito.
E, ao sentir uma comichão, vai olhar-se ao lago e estava cor-de-rosa, com os bigodes com todas as cores do arco- íris e às bolinhas azuis.
Entretanto, o seu namorado, o Abana- Abana foi visitá-la. Bernardina não queria que o namorado a visse assim. O Abana- Abana começou a cantar e disse que não parava enquanto ela não lhe abrisse a porta.
Bernardina pensou duas vezes e abriu-lhe a porta. O Abana- Abana quase caiu para o lado, quando a viu assim, cor de rosa, , com os bigodes às cores e às bolinhas azuis.
Bernardina contou-lhe a história de ter ajudado o Borrelho com a perna ferida, os ovos da Andorinha- do- mar anã e a s ovas da Maternidade em risco.
-Já tentaste misturar os ingredientes todos?- pergunta o Abana- Abana.
-É isso!!!- diz, alegremente, Bernardina.
Bernardina começa a fazer a sua lenga- lenga três vezes.
E, repentinamente, Bernardina volta a ter a sua cor normal. Após isso, começa a sentir uma comichão nas costas, e, momentos depois, umas lindas asas brancas surgem das costas de Bernardina. A lontra mal conseguia acreditar: o seu maior sonho, finalmente, tornara-se realidade. Bernardina voava em círculos, aos ziguezagues, enfim, de todas as maneiras que se possa imaginar.
- Convidaram-me para uma festa na Baixa- Mar para cantar e , enquanto eu estiver a cantar, tu tiras uma gabardina que vais ter vestida no momento, e começas a voar!- disse o Abana- Abana.
Bernardina concordou, e lá foram à festa.
Se o Abana- Abana bem pensou, melhor ainda o acontecimento se realizou: enquanto ele cantava, Bernardina entra, tira a gabardina e desata a voar, surpreendendo toda a gente que ali estava presente.
Bernardina voava livremente sob o céu estrelado: ela nunca se sentira tão feliz.
Aquelas asas fizeram de Bernardina a lontra mais feliz do mundo.
Portanto, se fores à Praia do Barril, mantêm os olhos bem fixos no céu: nunca se sabe onde pode estar a lontra Bernardina.




Baseado no livro “ Os Contos do Mago”